A síndrome de narciso e os relacionamentos

O Mito Grego

De acordo com a história, Narciso veio ao mundo na área grega da Boécia. Sua beleza era excepcional, e ao seu nascimento, um oráculo chamado Tirésias previu que ele seria extremamente encantador e viveria por muitos anos. Contudo, ele deveria evitar se encantar com sua própria imagem, pois, ao olhar para o seu reflexo, sua existência seria condenada.

Além de sua beleza impressionante, que chamava a atenção de muitos (tanto homens quanto mulheres), Narciso era vaidoso e prepotente. Em vez de se enamorar por aqueles que o admiravam, ele se apaixonou por sua própria imagem, ao contemplá-la refletida em um lago.

Origens do Termo e Contextualização Psicanalítica

O termo “narcisismo” foi introduzido na psicanálise por Sigmund Freud no início do século XX. Ele o utilizou para descrever um estado em que o indivíduo direciona toda sua energia libidinal para si próprio, ao invés de investir nos outros. Freud dividiu o narcisismo em duas categorias principais: narcisismo primário, que ocorre na infância como parte do desenvolvimento natural, e narcisismo secundário, que pode se tornar patológico quando o indivíduo se torna excessivamente autocentrado e incapaz de estabelecer relações saudáveis.

O Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) é um quadro clínico identificado pela psiquiatria e psicologia, caracterizado por um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia.

Comportamentos de uma Pessoa com Narcisismo Patológico

Pessoas com tendências narcisistas frequentemente exibem alguns ou todos os seguintes comportamentos:

  1. Sentimento exagerado de importância – Acreditam que são especiais e superiores aos outros.

  2. Necessidade constante de admiração – Buscam elogios, reconhecimento e atenção constante.

  3. Falta de empatia – Têm dificuldade em se colocar no lugar dos outros e reconhecer seus sentimentos.

  4. Manipulação e exploração – Usam os outros para alcançar seus próprios objetivos.

  5. Inveja e sentimento de superioridade – Muitas vezes menosprezam os outros para se sentirem melhor.

  6. Dificuldade em lidar com críticas – Reagem com raiva ou desprezo quando são contrariados.

  7. Relacionamentos superficiais e instáveis – Tendem a entrar em relações apenas para satisfazer suas próprias necessidades, descartando parceiros quando não são mais úteis.

Como Identificar um Narcisista em um Relacionamento?

Dentro de um relacionamento, a presença do narcisismo pode se manifestar de maneiras muito prejudiciais. Aqui estão alguns sinais de alerta:

  • No início, o parceiro narcisista pode ser extremamente sedutor, criando uma falsa sensação de conexão profunda.

  • Há um padrão de desvalorização após um período inicial de idealização, onde o parceiro passa a ser criticado e inferiorizado.

  • Jogos emocionais e manipulações são comuns, levando a vítima a duvidar de sua própria percepção da realidade (gaslighting).

  • A relação gira em torno das necessidades do narcisista, sem consideração pelo bem-estar emocional do outro.

  • Explosões de raiva ou frieza extrema quando contrariados.

Narcisista trata bem no inicio

Como Lidar com um Narcisista?

Conviver com uma pessoa narcisista pode ser desafiador, mas algumas estratégias podem ajudar:

  1. Estabeleça limites claros – Seja firme ao definir o que é aceitável e o que não é.

  2. Evite confrontos diretos – Narcisistas reagem mal a críticas; use uma abordagem neutra para expressar suas necessidades.

  3. Não espere mudanças radicais – O narcisista raramente reconhece seus próprios problemas.

  4. Fortaleça sua autoestima – Mantenha-se firme em sua identidade para não ser emocionalmente sugado.

  5. Busque apoio – Terapia individual pode ser fundamental para lidar com os impactos emocionais de conviver com um narcisista.

  6. Considere o distanciamento – Em casos extremos, o afastamento pode ser a melhor alternativa.

Plano Terapêutico para o Narcisismo

O tratamento para o Transtorno de Personalidade Narcisista é complexo, pois muitos indivíduos não reconhecem a necessidade de ajuda. No entanto, abordagens terapêuticas podem promover mudanças significativas:

  1. Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (TCC) – Ajuda o indivíduo a identificar padrões de pensamento disfuncionais e a desenvolver empatia.

  2. Terapia Psicodinâmica – Explora questões inconscientes que alimentam o comportamento narcisista, como traumas infantis e baixa autoestima mascarada.

  3. Mindfulness e regulação emocional – Técnicas de atenção plena podem auxiliar na redução da necessidade de controle e validação externa.

  4. Desenvolvimento de habilidades sociais – Ensina a lidar com conflitos de maneira saudável e respeitosa.

  5. Construção de um senso de identidade mais realista – Trabalha na aceitação das próprias limitações e na valorização dos outros.

Embora o tratamento seja desafiador, a evolução é possível quando há engajamento genuíno na terapia. Para aqueles que convivem com um narcisista, a melhor abordagem é manter uma visão clara da realidade e buscar apoio para preservar a própria saúde emocional.

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Uoston Santos

Psicanalista e Escritor

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